Fernando Monteiro D'Andrea
janeiro 14, 2019
17:34
por Fernando Monteiro D’Andrea
Inovação é qualquer ação que traga valor novo ou riqueza nova para a organização em questão. Em geral, pensa-se sobre inovação somente em empresas, mas inovação pode surgir (e surge!) em qualquer tipo de organização no mercado (sim, existe inovação em ONG’s, em igrejas e, até mesmo, pasmem, em governos). Além do mais, inovação não é invenção. Invenções que não consigam ajudar a criar valor novo, não se tornam inovações. Inovações são, em geral, compostas por um grande número de invenções diferentes, invenções geralmente são incorporadas em alguma inovação em algum ponto.
De maneira mais sistemática, pode-se dizer que a inovação pode surgir em:
Em geral, as coisas chamadas de ‘inovação’ são compostas por diversas mudanças menores às quais o usuário, o cliente final, raramente tem acesso.
Por exemplo, no lançamento de um produto novo, tem-se que, antes, além de criar o produto: saber se o produto que se quer ofertar é necessário (conhecer o mercado e suas necessidades), descobrir como esse produto será produzido (que processos produtivos serão necessários, que tipo de recursos – máquinas, equipamentos, pessoas, conhecimento, etc. – é necessário para que esse processo seja colocado em prática), saber como levar esse produto até os potenciais clientes (como se dará a distribuição, como as pessoas saberão que o produto existe e está disponível para que elas tenham acesso, que público deverá ser buscado como potencial cliente, etc.) e, claro, administrar toda a estrutura que será criada para suportar a operação que levará às vendas desse produto (tudo o que deverá funcionar para suportar esse aparato de compreensão do mercado, produção, e disponibilização da solução de maneira contínua).
Sabendo o que é inovação, define-se o que é mercado. Mercado é o processo constante de criação e descoberta de soluções para os mais deferentes problemas. É através desse processo de mercado que a sociedade evolui ao longo do tempo, esta evolução se dá pelo aumento da eficiência (produtividade – fazer com menos recursos) ou pelo aumento da efetividade (fazer melhor, resolver um algo de uma forma melhor do que ele é resolvido hoje) na solução dos problemas. Mercado não é um lugar, é o processo pelo qual as inovações ocorrem para melhorar as vidas das pessoas.
Mas e como essas inovações ocorrem?
Bem, é aí que entra o empreendedor.
O empreendedor, é quem decide sobre o uso dos recurso (de todos os tipos possíveis, tangíveis ou intangíveis). Esta decisão se dá em condições de incerteza e não de risco, pois não se pode saber o futuro e, portanto, é impossível calcular com exatidão a probabilidade de uma ação empreendedora ter sucesso. Para tanto, o empreendedor usa julgamento pessoal baseado em conhecimento e expectativas sobre o futuro.
Os ativos sob comando do empreendedor têm que ser, ao menos em parte, de sua propriedade. Neste sentido, um administrador – um manager – pode ser um empreendedor, desde que tenha também sua ‘pele em risco’, ou seja, desde que tenha controle sobre o que ocorre com (ao menos parte) dos ativos.
Assim, investidores que não decidem o que será feito dos ativos, não são empreendedores. Empreendedores são donos de ativos que arriscam, ao menos em parte, estes mesmos ativos, para tentar solucionar problemas de um conjunto de pessoas sob condições de incerteza e, pelo qual, são recompensados com lucro, ou, em caso negativo, pagam com prejuízo. Para tentar resolver os problemas, o empreendedor necessariamente deverá inovar ao menos em uma das quatro áreas mencionadas antes. Normalmente, porém, a inovação se dá, em níveis diferentes, nas quatro áreas ao mesmo tempo.
O empreendedor é o principal ator do processo de mercado. É ele que percebe oportunidades ou imagina soluções para problemas que estão na sociedade e junta diferentes recursos de maneira a criar uma possível solução. O empreendedor é, no fim das contas, o responsável pela inovação (mesmo aquela inovação que o usuário final não percebe). É quem deve usar julgamento pessoal e arriscar para tentar se aproveitar da insatisfação com algum determinado estado de coisas em um grupo de pessoas.
E ao agir, o empreendedor necessariamente muda o ambiente competitivo, muda o mercado. Mudanças são inerentes ao processo de mercado e estão umbilicalmente ligadas à inovação.
O empreendedor, portanto, é o agente econômico responsável pela inovação e, por consequência, pelo funcionamento do mercado. Usando os sinais dados pelos lucros e prejuízos (que indicam o grau de capacidade do empreendedor de atender a determinado público com o produto em questão) e sua estrutura de custos, o empreendedor aprende se está, ou não, tendo sucesso em sua leitura do mercado. Lucros indicam que há alinhamento entre a organização e o mercado, prejuízos indicam o contrário.
Além disso, sem o empreendedor não é possível que haja desenvolvimento econômico, simplesmente porque não haverá possiblidade de cálculo econômico. Não é possível, sem o empreendedor, saber se o produto serve ou não a um público suficientemente grande para, ao menos, pagar os custos de produção.
Estes três elementos: (1) empreendedor, (2) inovação e (3) processo de mercado, estão fundamentalmente interconectados. Sem a ação empreendedora não é possível que haja inovação e sem inovação não existe mercado.
O empreendedor gera riqueza nova, que não estaria disponível sem que ele tivesse agido.
O empreendedor age no processo de mercado e o modifica, o melhora. O empreendedor, em resumo, inova.
Engenheiro de Produção, mestre em Management Engineering pelo Politecnico di Milano e doutorando em Administração pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em Porto Alegre.